domingo, 21 de agosto de 2011

EU NÃO COMO BICHO

Por Maurício Esteves Coca
Extraído da revista Veja de 18 de outubro de 1995.

"E pensar que houve um tempo em que eu me deliciava com carne vermelha. Nos almoços e jantares, gostava de filés sangrentos, pantagruélicos churrascos e hambúrgueres suculentos. Achava a carne de animais indispensável. E hoje não consigo olhar uma chuleta. Picanha, nem em fotografia. Só o cheiro de maminha me enjoa. Meu paladar não mudou nem estou mais preocupado com a minha saúde. São as informações e o conhecimento que me embrulharam o estômago. Há dois anos, fundei o Instituto de Proteção aos Animais do Brasil, mas batalho pela causa faz mais de dez anos. Uma das atividades do instituto é o recebimento de denúncias sobre maus tratos aos bichos. Infelizmente, é o setor mais agitado. Foram as denúncias da crueldade contra os animais que me fizeram fugir dos "prazeres" da carne.

Uma vaca leva três marretadas na cabeça, às vezes mais, para morrer. São marretadas de ferro, com cabo de aço. Imagine-se a dor. Quando não morre, o animal é retalhado ainda vivo. Ao ver aquela carne toda assando sobre as brasas da churrasqueira, a imagem que me vem à cabeça é essa.
Não como mais carne vermelha. Mas não porque ela pode fazer mal ao meu organismo. Não é uma questão de carne vermelha contra carne branca. Evito carne de boi, porco, aves e peixes. Também não compro cintos, malas, nem sapatos de couro animal. Eu protesto pelos crimes contra os animais. Não consumo a carne de um bicho que foi torturado e sofreu intensa dor. Sou vegetariano por uma questão de consciência.


Em geral, os homens não estão nem um pouco preocupados com os métodos pelos quais os animais são abatidos. Como seres pretensamente superiores, querem apenas se alimentar. É uma pena, pois todo esse sofrimento, dor e angústia é o que se ingere junto com os bichos. A consciência ecológica, tão decantada, fecha os olhos para as barbaridades cometidas contra os animais.

É uma hipocrisia, e outra forma de egoísmo, abandonar a carne vermelha para comer só frango e peixe. Ora, um frango passa 45 dias ingerindo uma ração pavorosa, sem poder se mexer, unicamente para ser decepado e retalhado. Em gaiolas que caberiam vinte, ficam entulhados cinquenta frangos. A galinha, por sua vez, é mantida em ambiente iluminado artificialmente, o tempo inteiro, para botar mais ovos. Assim, viola-se o ciclo noite e dia para, à custa dos animais, conseguir mais lucros. Você já imaginou ficar num cubículo permanentemente iluminado, preso até morrer? Isso é barbárie.


Os bezerros que depois viram baby beef só conhecem o sofrimento em seus poucos meses de vida. Eles são mantidos, desde o nascimento, em cubículos pouco maiores que eles para não criar músculos e ter carne macia. Morrem sem ter dado um único passo. Quanto mais comermos baby beef e vitela, mais bezerros serão mantidos assim.


Os porcos, além de ser tratados como animais sujos - que não são - e ser alimentados com restos de comida, muitas vezes na beira de córregos imundos, morrem de forma cruel. Um facão corta-lhes o pescoço de lado a lado, e eles são deixados sangrando, até secar. Em alguns casos, depois são jogados numa piscina de água fervendo. Imaginem, morrem esfaqueados e seus corpos são afogados e queimados.

No transporte de bois, se algum cai ou se deita, leva umas bordoadas para se levantar. Quando não dá certo, o motorista do caminhão liga uns fios à bateria e dá choque nos coitados.

Esses métodos cruéis de abate, criação e transporte são mais comuns do que se imagina. Além disso, várias pesquisas mostram que cerca de metade da carne que se come, é proveniente de abatedouros clandestinos. Isso significa que além de sofrer um abate terrível, o animal pode ser doente.

O ato de não comer carne vermelha por não ser saudável é ganância do homem.
O ato de não comer outros seres vivos por respeito a eles é algo divino.
Todos os animais nascem iguais diante da vida e têm o mesmo direito a uma existência e a uma morte dignas."

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